A Psicologia entre o longo passado e a curta história

O artigo analisa a frase de Ebbinghaus, célebre, e critica os pressupostos históricos ali supostos, com algumas frentes de análise. Segue o resumo:

O presente trabalho pretende inserir a História da Psicologia dentro de um debate mais alargado, em torno das Histórias da Filosofia e das Ciências. Para isso, o objeto de análise é a célebre frase de Ebbinghaus, 'A Psicologia tem um longo passado, mas uma curta história', e toda a tradição de livros e textbooks decorrente dela, muito popular nos séculos XX e XXI. O trabalho analisará o texto de Ebbinghaus e seus compromissos decorrentes. Então realizará uma crítica a essa tradição, em três frentes: primeiramente, trazendo à tona estudos mais recentes sobre Gustav Fechner, encarado como figura central na constituição da Psicologia como ciência, mas não obstante ignorado por seus compromissos 'especulativos'; em segundo lugar, confrontando tais questões com as perspectivas do século XX, especialmente a história epistemológica das ciências; finalmente, abrindo o 'longo passado' a uma história mais alargada, a partir de analistas mais contemporâneos que começaram a perscrutar o próprio termo 'Psicologia'.
Está no PhilPapers, mas a referência é: Dissertatio 47:95-134 (2018)

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Voltaire: "Loucura" (Dicionário Filosófico, 1764)



Não se trata de reeditar o livro de Erasmo, que na atualidade não seria mais do que um lugar comum bastante insípido.

Chamamos loucura a essas doenças dos órgãos do cérebro que impedem um homem de pensar e de agir como os outros. Não podendo gerir seus bens, é, interdito; não podendo ter ideias de acordo com a sociedade, é excluído, se for nocivo, é enclausurado; se for furioso, trancafiam-no.

É importante observar que esse homem, entretanto, não carece de ideias; ele as tem como todos os outros enquanto acordado e, frequentemente, enquanto dorme. Poder-se-á perguntar como sua alma espiritual, imortal, alojada em seu cérebro, recebendo todas as ideias por meio dos sentidos coordenados e divididos, não possa concluir um julgamento são. Ela vê os objetos como os viam na alma de Aristóteles e de Platão, de Locke e de Newton; ouve os mesmos sons, tem o mesmo sentido do tato: por que motivo, pois, recebendo percepções que os mais sábios experimentam, compõe um conjunto inevitavelmente extravagante?

Se essa substância simples e eterna possui para as suas ações os mesmos instrumentos das almas dos cérebros mais sábios, deve raciocinar como eles. Que o impediria? Claro que se um maluco vê vermelho e os sábios azul; se quando os sábios ouvem uma música o louco ouve o zurrar de um asno; se quando eles estão no sermão o louco julga estar na comédia; se quando eles ouvem sim ele entende não, então sua alma deve pensar ao contrário das outras. Mas o louco tem as mesmas percepções que eles; não há nenhuma razão aparente pela qual sua alma, tendo recebido mediante os sentidos todos os seus utensílios, não os possa usar. Ela é pura, dizemos; não está sujeita por si mesma a nenhuma enfermidade; ei-la provida de todos os recursos necessários; passe o que se passar em seu corpo, nada poderá mudar a sua essência; contudo, ei-la encerrada num manicômio.

Essa reflexão pode fazer supor que a faculdade de pensar, doada por Deus ao homem, esteja sujeita a desarranjos como os outros sentidos. Um louco é um doente cujo cérebro sofre, como o gotoso é um doente que sofre dos pés e das mãos; ele pensa com o cérebro, assim como anda com os pés, sem nada conhecer nem do seu poder incomparável de andar, nem do seu não menos incompreensível poder de pensar. Sofre-se a gota no cérebro como nos pés. Enfim, após mil reflexões, é preciso convir em que somente a fé, talvez, possa convencer-nos de que uma substância simples e imaterial seja passível de doença.

Os doutos ou os doutores dirão ao louco: “Meu amigo, não obstante teres perdido o senso comum, tua alma é tão espiritual, tão pura, tão imoral como a nossa; porém nossa alma está bem alojada e a tua o está mal; as janelas da casa estão fechadas para ela; falta-lhe ar, ela sufoca”. O maluco, em seus bons momentos, lhes responderia: “Meus amigos, pensais à vossa moda, o que é discutível. Minhas janelas estão tão abertas como as vossas, porquanto eu vejo os mesmos objetos e ouço as mesmas palavras: é, pois, necessário que, ou minha alma empregue mal os seus sentidos, ou seja, ela própria um sentido viciado, uma qualidade depravada. Numa palavra, ou minha alma é louca por sua própria conta ou eu não tenho alma”.

Um dos doutores poderá responder: “Meu irmão, Deus criou, é possível, almas loucas, assim como criou almas sábias”. O louco replicará: “Se eu fosse acreditar no que me dizeis, seria ainda mais louco do que já sou. Por obséquio, vós que sabeis tanto, dizei-me, por que sou louco? ”. Se os doutores tiverem ainda um pouco de bom senso lhe responderão: “Ignoro-o absolutamente”. Eles não compreenderão por que um cérebro tem ideias incoerentes; não compreenderão melhor por que outro cérebro tem ideias regulares e coerentes. Julgar-se-ão sábios, e serão tão loucos como ele.

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Para uma História da Psicologia

Os textos abaixo, de Paul Mengal, são de 1988 e 1994. Mas eles mostram algo pouco recebido pela crítica até hoje: certo esquecimento das bases históricas da Psicologia pelos próprios psicólogos. Se, por exemplo, um Físico não pode ignorar o nascimento da física moderna a partir de figuras como Copérnico e Galileu, ou da criação de instrumentos como o telescópio (isto é: o físico foi obrigado a reconhecer, para a constituição da física moderna, alguns critérios, mesmo que inexatos), em História da Psicologia a disciplina perdeu-se numa série de ilusões retrospectivas. 
 
Quando retorna ao passado para enxergar o presente, muitas vezes o Psi encontra espécies de interrogações destituídas de interesse para uma história da Psicologia, senão sob caricaturas retrospectivas. Assim, por exemplo, Platão, Aristóteles ou Descartes teriam teorias que seriam uma espécie de "museu do ultrapassado": falam sobre a mente ou alma, mas sob motivos, no fundo, ultrapassados e irrelevantes. Seriam, no fundo, "figuras importantes sem importância". 
 
E quando olha do presente para o passado, o Psi prende-se em juízos retrospectivos ligados a compromissos que permanecem inconfessos, mas que direcionam previamente todo julgamento sobre a História. 
 
Isso começou ao menos com Hermann Ebbinghaus, na virada do século XX, quando disse que a Psicologia tem um "longo passado, mas uma curta história".
Ebbinghaus queria usar seu positivismo como ponto arquimediano sobre o qual giraria a História da Psicologia inteira. Seus motivos foram popularizados por historiadores como Edwin G. Boring (em torno de 1929), e depois difundidos numa imensa cultura de manuais de Psicologia. 

Muitos criticaram o "positivismo" de Ebbinghaus, mas o enfoque internalista, retrospectivo e presentista em história, consolidado por ele, permaneceu.

Muita Psicologia ainda se acha capaz de julgar a História a partir dos critérios internos que adota. Assim, pode-se acusar o anti-cientificismo usando um critério cientificista; pode-se também utilizar outros termos de base, tais como "autenticidade", "singularidade", "esfera concreta" ou "social" ou qualquer outro para girar sob si o eixo da História e fazer cair como falsa qualquer outra Psicologia.

Sob tais procedimentos, uma história que tenta demonstrar como determinados conceitos e protocolos se tornaram possíveis para compor o presente, ficou na penumbra.

É um pouco esse o esforço de Mengal, dentre outros historiadores: perguntando sobre como a Psicologia se tornou possível, ao invés de (por assim dizer) já lançar sobre a história juízos presentistas e retrospectivos, ele encontrou uma série de autores e questões pouco considerados, mas que dizem respeito à criação do termo "Psicologia" no século XVI e seu destino e implicações.

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Transversal: Edição dedicada a Georges Canguilhem

Dossiê da Revista Transversal dedicado a Georges Canguilhem. Muita coisa interessante por lá:

Dossiers (Issue-specific topics)

Fábio Ferreira Almeida
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3
François Delaporte
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8
Enrico Castelli Gattinara
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14
David Marcelo Peña-Guzmán
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27
Arantza Etxeberria, Charles T. Wolfe
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47
Roth Xavier
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64
José Ternes
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78
Carlos Estellita-Lins, Flavio Coelho Edler
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90
Márcia H. M. Ferraz, Ana M. Alfonso-Goldfarb, Silvia Waisse
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108
Alexandra Soulier
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118
Tiago Santos Almeida
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140
Océane Fiant

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O suicídio entre os jovens

Muito bom o texto de Eliane Brum sobre a questão do suicídio entre os jovens: por que, neste século, mais adolescentes parecem deletar a própria vida?
No Brasil, entre 2000 a 2015, os suicídios aumentaram 65% dos 10 aos 14 anos e 45% dos 15 aos 19 anos, segundo levantamento do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do Mapa da Violência no Brasil. Nos últimos dois anos, os números podem indicar uma pequena estabilização, mas só daqui mais um ano será possível afirmar se é uma tendência ou apenas uma oscilação. No mundo, o suicídio já é a segunda causa de morte entre adolescentes, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por que mais jovens se suicidam hoje do que ontem?
 Um dos créditos do texto de Eliane está em inverter a pergunta mais automática: não por que os adolescentes se matam, mas, num mundo como o atual, por que não se matam, isto é, não seria de estranhar se, num mundo que oferece menos sentido e condições vitais, os adolescentes pensassem menos sobre a própria morte?
por que não haveria mais adolescentes interrompendo a própria vida nos dias atuais do que no passado? Na leitura do momento, me parece que o espanto se justificaria se, num mundo distópico, houvesse menos jovens com dificuldade de encontrar sentidos diante do desespero.
A pergunta, portanto, não é sobre quem se suicida, mas sobre nós, sobre o mundo que o adolescente deixa para trás quando se mata. 

- É um mundo, como diz Eliana, de aquecimento global, de ausência de água, um mundo desfigurado e cujo único anúncio é o colapso e o apocalipse. Não à toa as séries da moda - isto é, nosso imaginário - anunciam um presente distópico ou um futuro ameaçador.

- O mesmo mundo é o da internet, no qual tudo se anuncia e sem máscaras. Não no sentido de que mais coisas deveriam ser ocultas, mas no de que nada parece estar aí sem o imperativo de ser totalmente desnudado.

- Igualmente, o suicídio aparece como fracasso do adolescente ou de sua própria família. É o atestado de insucesso num mundo no qual, conforme dito acima, tudo deve ser obrigatoriamente visível e sem máscaras. Diante do escancaramento do fracasso, a anulação total.

- E, ao invés da doença, da angústia ou do desespero, é o suicídio que toma forma como resposta. É o "deletar" a si mesmo, conforme Eliana bem chama a atenção.

- Como antídoto, a tentação imediata é a de criar manuais e protocolos para "evitar" o suicídio. Novamente, fechamos tudo em papéis individuais. É ele, é o outro. O fundamental, que é o convívio social e a coletividade, está fora de questão. Ou, como Eliana parece também sugerir, o fechamento no individual refere-se tanto à responsabilidade individual de se matar quanto a de ser "responsável" pelo suicídio de alguém: "a" família, "os" amigos, "a" faculdade.

- O Outro como ameaçador se impessoaliza numa internet que deixa rastros, como no caso de Yonlu, adolescente que se suicidou no RS assistido e auxiliado por diversas pessoas ao redor do mundo. Em suma: somos soterrados por informação e não há tempo ou espaço para elaborar. Da informação comum às crises existenciais, o dado básico é a ansiedade e o cansaço. A super-exposição também obsceda. Conforme Mario Corsi, psicólogo entrevistado por Eliana,
Por exemplo, o bullying antes era restrito a um lugar, ficava na escola. Hoje ele não para, não dá trégua e não dá àquele que sofre o direito de recomeçar. A internet não esquece.

- As plataformas de interação dos adolescentes também nos denunciam: likes e blocks, emoticons nos quais deletamos ou somos deletados, criando um tempo e um espaço no qual nos afastamos no uso de nossos próprios espaços e tempos. Há, como diria Jaron Lanier, uma correlação entre o aumento do uso das redes sociais - especialmente as feitas sob a base de likes - e o aumento mundial dos suicídios.

O escancaramento do fracasso envolve, igualmente, o preço total do "ou o sucesso, ou nada". Não se pode ser adolescente sem o curso visível de um sucesso que não pode ser outra coisa senão inevitável. Como viver sob exposição total e sem sucesso? Não há tempo para a falta, não há angústia ou náusea. Num mundo sem lacunas e onde só pode haver luz, não espanta abrir-se tamanha escuridão.

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O Holocausto Brasileiro - Documentário


Bela referência do Farofa Filosófica sobre documentário feito a partir do livro de Daniela Arbex, sobre a Colônia de Barbacena.

Em 80 anos de internamento na Colônia, a média anual  de mortes era de 750 pessoas (!). Tempos de internamento psiquiátrico e medicalização sem escrúpulos que sempre insistem em voltar.

O Farofa também tem outros links bastante ricos.

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Michael Inwood: Hermenêutica

Tradução da Crítica do bom artigo introdutório de Inwood sobre Hermenêutica, abrangendo desde seus "primórdios" até Heidegger.

A hermenêutica, a “arte da interpretação”, era originalmente a teoria e o método de interpretação da Bíblia e de outros textos difíceis. Wilhelm Dilthey a alargou à interpretação de todas as criações e atos humanos, incluindo a história e a interpretação da vida humana. Heidegger, em Ser e Tempo (1927), esboçou uma “interpretação” do ser humano, o ser que, em si mesmo, compreende e interpreta. Sob sua influência, a hermenêutica se tornou um tema central na filosofia continental, gerando várias controvérsias. Ao interpretar algo, desenterramos os pensamentos e as intenções do autor, imaginando-nos em sua posição, ou relacionamo-lo a um todo mais amplo que lhe dá significado? Essa última perspectiva produz um círculo hermenêutico: não podemos compreender o todo (um texto, por exemplo) sem compreender suas partes, ou compreender as partes sem compreender o todo. Heidegger descobriu outro círculo: já que inevitavelmente trazemos pressupostos para o que interpretamos, significa isso que toda interpretação é arbitrária, ou ao menos infinitamente passível de revisão?

Referência:
Inwood, Michael. Hermenêutica. Crítica na Rede, 2 de junho de 2007. Publicado em Routledge Encyclopedia of Philosophy, org. Edward Craig (Londres: Routledge, 1998)

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Christian Wolff - Psicologia Empírica - Prefácio e Prolegômenos (1732)

Finalmente uma tradução da Psicologia Empírica, sob a pena de Marcio Suzuki.

Referência:

Wolff, Christian, 1679-1754 Psicologia Empírica. Prefácio e Prolegômenos. Tradução de Márcio Suzuki. São Paulo: Editora Clandestina, 2018

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Françoise Dastur: O que é Daseinsanalyse? (2000)

O termo “Daseinsanalyse” apareceu pela primeira vez em 1927 na obra-mestra de Martin Heidegger, Ser e Tempo. Foi imediatamente traduzido para francês por “analyse existentielle”. Mas esta denominação está na origem de um contra-senso sobre o sentido original que Heidegger deu ao termo Dasein: é essa a razão pela qual tomamos o hábito de conservar o termo alemão Dasein, mesmo em francês. Este termo, que significa literalmente “ser-aí”, é aquele pelo qual a filosofia alemã traduziu, depois de Kant, o latim existentia, mas Heidegger deu-lhe um sentido muito particular, já que designa na sua filosofia exclusivamente o ser do homem que, uma vez que a compreensao do ser lhe pertence, não pode ser definido de outro modo que como o modo de ser fora de si, como ex-istencia – este termo não designando mais em Heidegger o simples facto de ser para um qualquer ente, mas exclusivamente o modo de ser proprio do Dasein. A compreensão efectiva que o Dasein tem de si mesmo é, pois, uma compreensão existencial. Mas aquilo que Heidegger designa por analise existencial ou Daseinsanalyse nao se situa ao nível simplesmente “ôntico” do comportamento individual concreto, mas ao de uma explicitação tematica da sua estrutura ontológica. A tarefa da anaıtica existencial consiste em distinguir e em analisar as modalidades de ser fundamentais do Dasein, os seus existenciarios. A diferença entre “existencial” e “existenciario” deve ser claramente sublinhada: não há nível existenciario sem fundamento existencial, quer dizer, sem a compreensao que tem da sua própria existência um Dasein em cada caso singular. Mas a analise existencial, uma vez que não visa unicamente um Dasein particular, mas o Dasein como tal, constitui a ontologia fundamental que serve de solo a todas as ontologias regionais, que tem por tarefa elucidar o modo de ser dos entes diferentes do Dasein, daqueles que procedem, por exemplo, da regiao “natureza” ou “vida”.
É Ludwig Binswanger (1881-1966) o verdadeiro fundador da psiquiatria daseinsanalítica. Ludwig Binswanger, que dirigira a partir de 1910 e até a sua morte a clínica Bellevue, fundada pelo seu pai em Kreuzlingen, na Suiça, encontrou Freud pela primeira vez em 1906 e nao parou mais de se dar com este, como atesta a sua correspondencia, um diálogo crítico que se estende sobre mais de trinta anos. E, com efeito, na crítica do psicologismo que dirige Husserl no primeiro tomo das suas Investigações Lógicas, aparecidas em 1900, e na sua redefiniçao da consciência em termos de intencionalidade e de sentido, que Binswanger vai encontrar os motivos para se opor ao naturalismo demasiado estreito de Freud. Começa entao a designar a direcção da sua pesquisa, que se desenvolveu em relação com a fenomenologia husserliana, com o nome de “antropologia fenomenologica”, integrando-se assim na larga corrente da “antropologia fenomenologica”, que reuniu a partir dos anos 20, para alem do próprio Binswanger, o neurologista Victor von Weizsäcker (O círculo da estrutura, aparecido em 1939), o neuropsiquiatra Erwin Strauss (Sobre o sentido dos sentidos, aparecido em 1935), e o psiquiatra frances Eugêne Minkowski (O tempo vivido, 1933) e muitos outros ainda, que se reclamavam da obra de Jaspers (Psicopatologia geral, 1913, traduzida para frances desde 1933), mas tambem de Scheler, Kierkegaard, Brentano, Dilthey, Natorp, Lipps, Bergson, antes de sofrerem as influências decisivas de Husserl e de Heidegger. 

Fonte: Lusofonia. http://www.lusosofia.net/textos/20120506-dastur_francoise_daseinsanalyse.pdf
Artigo  publicado  originalmente  em Res  Publica ,  Revista  da  Associação de Filosofia da Universidade de Paris XII - Val de Marne,  n o 22,  Novembro- Dezembro-Janeiro 99/2000, pp. 41-45 e traduzido no ambito do Projecto “Hei- degger em Portugu ˆ es”.  A vers  ̃ ao francesa apareceu igualmente em:  D ASTUR , Franc ̧oise.  “Qu’est-ce que la Daseinsanalyse?” Phainomenon 11 (2005), 125- 13

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Bento Prado Jr.: De volta ao século XIX (2004)

Quando me propus tal tema, para esta conferência, tinha em mente  um dos paradoxos de nossa contemporaneidade – o que há de fortemente regressivo  nos processos desencadeados pelas novas tecnologias e pela nova economia – apenas no campo da filosofia. Cogitava exclusivamente na volumosa produção das chamadas cognitive sciences e pensava apontar como, em algumas de suas manifestações, tal literatura nos devolve à atmosfera do naturalismo de meados do século XIX, que exigiu vários “retornos a Kant”, bem como os esforços simultâneos de Bergson, de Husserl e de toda a linha da filosofia analítica. 
 
O paradoxo seria o seguinte: tudo se passa como se boa parte dos pensadores contemporâneos ignorassem todas as grandes obras do século XX. Hoje, muitos não se escandalizariam, apenas “modernizariam” a frase de Büchner, há 150 anos atrás, segundo a qual o cérebro seria uma espécie de “glândula” e o pensamento, sua “secreção”. Há poucos meses atrás, o recém-falecido e grande cientista Francis Crick (Prêmio Nobel e descobridor do DNA) anunciava triunfalmente ter descoberto a “célula” da alma, que punha por terra, definitivamente, com a autoridade da ciência positiva, uma visão religiosa do mundo e suas implicações como a imaterialidade e a imortalidade da alma. Como se as idéias de subjetividade, consciência e significação remetessem automaticamente ao espiritualismo e como se o monismo reducionista não fosse auto-contraditório.
 
Retornando há algumas décadas antes de Büchner, poderíamos lembrar a frase de Hegel contra a Frenologia de Gall, quando afirmava que “A razão não é um osso”. Hegel, é claro, é um filósofo idealista, mas sua frase poderia ser endossada por Husserl e Russell, pelos empiristas lógicos, sem pensar, é claro, nos neo-kantianos, isto é, por toda a filosofia significativa do século XX. Numa palavra, como procuraremos sugerir, o monismo reducionista elimina as idéias de significação e de verdade (laboriosamente montadas por Platão e Aristóteles em seu combate contra a sofística), deixando de lado a evidente circularidade da expressão cognitive sciences, ou ciências dos processos cognitivos ou, no limite, ciência do conhecimento científico. Embora, é claro, como veremos, essa disciplina pertença antes ao domínio da especulação filosófica e de apostas sobre os resultados futuros (ainda desconhecidos) da própria ciência. Uma ciência ou uma nova versão de uma antiga concepção materialista-metafísica, incontrolável cientificamente?

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William James: As emoções (trecho do cap. XXV de Principles of Psychology, 1890)

Tradução realizada por Daniela Cerdeira e por Gallia Bronowski, de uma seção de "The Emotions", capítulo XXV de The Principles of Psychology, publicado originalmente por Henry Holt and Company, em 1890. Revisão técnica e notas por Guilherme Gutman.
Se imaginarmos uma emoção forte, e em seguida tentarmos abstrair de nossa consciência dessa emoção todos os sentimentos de seus sintomas corporais, perceberemos que nada resta, nenhum "estofo mental" a partir do qual uma emoção possa ser constituída, e que tudo o que permanece é um estado frio e neutro dapercepção intelectual.

Referência:
JAMES, William. As emoções (1890). Rev. latinoam. psicopatol. fundam. [online]. 2008, vol.11, n.4 [cited  2018-06-01], pp.669-674. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142008000400013&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1415-4714.  http://dx.doi.org/10.1590/S1415-47142008000400013.

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William James: O que é uma emoção? (1884)

Publicado originalmente em Mind, Vol. 9, No. 34. (Abril, 1884), pp. 188 - 205
Tradução de Raphael Silva Nascimento em Clínica & Cultura v. II, n. I ,  jan - jun 2013 , 95 - 113

O objetivo  das páginas seguintes é mostrar que  (...)  os  processos  emocionais  do  cérebro  não  só  se  assemelham  aos  seus  processos  sensoriais  usuais,  mas,  na  grande  verdade,  nada  mais  são  do  que  a  combinação  de  tais  proc essos  de  forma  variada.

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Lacan, Canguilhem, Panteão, Delegacia de Polícia (1966)

Jacques Lacan (Cahiers pour l'Analyse 1):

On sait ma répugnance de toujours pour l’appellation de sciences humaines, qui me semble être l’appel même de la servitude.
C’est aussi bien que le terme est faux, la psychologie mise à part qui a découvert les moyens de se survivre dans les offices qu’elle offre à la technocratie; voire, comme conclut d’un humour vraiment swiftien un article sensationnel de Canguilhem: dans une glissade de toboggan du Panthéon à la Préfecture de Police. Aussi bien est-ce au niveau de la sélection du créateur dans la science, du recrutement de la recherche et de son entretien, que la psychologie rencontrera son échec.

Georges Canguilhem (Cahiers pour l'Analyse 2):

C’est donc très vulgairement que la philosophie pose à la psychologie la question: dites-moi à quoi vous tendez, pour que je sache ce que vous êtes? Mais le philosophe peut aussi s’adresser au psychologue sous la forme - une fois n’est pas coutume - d’un conseil d’orientation, et dire: quand on sort de la Sorbonne par la rue Saint-Jacques, on peut monter ou descendre; si l’on va en montant, on se rapproche du Panthéon qui est le Conservatoire de quelques grands hommes, mais si l’on va en descendant on se dirige sûrement vers la Préfecture de Police.

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Eugene Minkowski: O tempo vivido (Prólogo, 1933)

O problema do tempo e do espaço é o problema central da psicologia, da filosofia, e diria mesmo, de toda a cultura contemporânea. Responsável por profundos conflitos em nossa existência, ele deve necessariamente ser examinado de perto por cada um de nós

MINKOWSK, Eugène. O Tempo Vivido Rev. abordagem gestalt. [online]. 2007, vol.13, n.2 [citado  2018-05-29], pp. 265-268 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672007000200012&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1809-6867.

Referência original: Publicado originalmente em 1933, Delachaux & Niestlé, Neuchâtel (Suisse)

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William James: O Escopo da Psicologia (Principles of Psychology, chap. 1) (1890)

Nota explicativa do tradutor Carlos Eduardo Lopes:

O escopo da psicologia é o primeiro capítulo do tratado The principles of psychology (Os princípios de psicologia) de William James (1842-1910), publicado originalmente em 1890. Nesse capítulo inaugural, James enfrenta uma questão central e perene na psicologia: a necessidade (e dificuldade) da demarcação do campo psicológico. Como representante de uma tradição que ainda falava da psicologia no singular, James vê na multiplicidade de assuntos, métodos e problemas da psicologia um desafio para uma disciplina que se pretendia científica. De um lado, era necessário assumir o caráter plural dos assuntos que merecem ser agrupados pela palavra psicologia, negando um reducionismo grosseiro, que, em favor de uma integração teórica, alijasse a “vida mental” de sua riqueza imanente. De outro lado, havia ainda a esperança de uma sistematização que pudesse evitar a completa fragmentação do campo psicológico. A história parece ter mostrado que a preocupação de James era, de fato, legítima, pois o que se viu a partir do século XX foi o fracasso de diferentes sistemas de psicologia, levando a um círculo vicioso no qual a dificuldade de demarcação do campo psicológico fragmenta cada vez mais a psicologia, o que, por sua vez, torna ainda mais distante a possibilidade de se encontrar critérios que possam sistematizar toda essa diversidade. Nesse sentido, O escopo da psicologia não é apenas uma introdução ao livro Os princípios de psicologia, mas uma introdução à psicologia moderna

Referência da Tradução: Cognitio, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 363-372, jul./dez. 2016
Referência: JAMES, William. The principles of psychology. eBooks Adelaide, 2009

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Skinner: A Psicologia pode ser uma ciência da mente? (1990)

Mas será que o cérebro origina o comportamento assim como se diz que a mente ou self o faz? O cérebro é parte do corpo e o que faz é parte do que o corpo faz. O que o cérebro faz é parte do que precisa ser explicado. De onde vem o conjunto corpo- cérebro e por que ele muda sutilmente de momento a momento? Não podemos encontrar resposta para questões desta natureza no próprio conjunto corpo-cérebro, quer observado pela introspecção, quer com instrumentos da psicologia.

Duas referências: link DOI e do ITCR Campinas.

Referência: SKINNER, B. F. (1999). Cumulative Record – Definitive Edition. Acton, Mass.: Copley Publishing Group. Publicado originalmente em 1990, na American Psychologist, 45 (11): 1206-1210

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A história da Psicologia "até que serve para alguma coisa"

Coleto, aqui, uma série de passagens a respeito do tema do título. ☺

Resgates históricos também são formas de produzir conhecimento, e, num campo  multifacetado  como  a  psicologia,  trazer  um  autor  das  raízes  de  sua  árvore  genealógica  para ser visto à luz do que se tornou essa ciência é um exercício curioso e esclarecedor.
William James, O que é uma emoção? Clínica & Cultura v. II, n. I ,  jan - jun 2013, 95 - 113

Toda tradução é uma interpretação e requer ajustes para que se torne compreensível pelo auditório a que se destina. (...) O tradutor buscou respeitar muito mais a substância do que a forma, tendo procurado transmitir de modo claro e simples o que o autor parecia querer significar em forma mais rebuscada e com recursos da época, como o uso de parágrafos muito extensos, os quais foram subdivididos a critério do tradutor.

William James: "O Eu escondido"

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Manuais de História da Psicologia




Duane P. Schultz and Sydney Ellen Schultz. A History of Modern Psychology, Tenth Edition.

Sobre manuais:

Lista de "sumários e prefácios" de manuais de Psicologia entre 1890 e 1999, organizada por William Gomes e Luciano Alencastro, na Memorandum.

Weiten - Portraits of a discipline: an examination of introductory psychology textbooks in America. doi=10.1.1.683.3931

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Propósitos e Propostas para a História das Ciências

A revista Temporalidades acabou de lançar uma coletânea com o título deste post. 

Há vários textos ali, sobre saneamento, medicina, saúde, educação, história natural e psicologia.

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Titchener: Brentano e Wundt: Psicologia Empírica e Experimental (1921)

Publicado originalmente no American Journal of Psychology, 32, 108-120. Uma versão no original em inglês encontra-se disponível no site Classics in the History of Psychology, organizado por Christopher Green (York University, Toronto, Ontario), no link.

Franz Brentano começou sua carreira como teólogo católico. Em 1867, publicou um esboço da história da filosofia no âmbito da igreja medieval, em que expõe, tão clara e agudamente quanto no ensaio de trinta anos depois, a sua famosa doutrina [p. 109] das quatro fases [3]. Tanto inicial quanto posteriormente, entretanto, o seu interesse intelectual se centrou na filosofia de Aristóteles. Brentano chegou à Psicologia através de um estudo intensivo do De Anima, e fez do método Aristotélico o seu padrão de procedimento científico. Infelizmente, temos apenas o primeiro volume de sua Psychologie: Brentano parece ter preferido a palavra falada à palavra escrita: mas este volume, como tudo o mais que ele entregou para impressão, é completo em si mesmo, a expressão final de seu pensamento maduro.

Wilhelm Wundt começou como fisiologista, interessado no especial fenômeno do nervo e do músculo. Em 1862, buscou estabelecer os fundamentos de uma “psicologia experimental” (a expressão aparece então impressa pela primeira vez) [4] numa teoria da sensopercepção. Aqui, Wundt incorreu num erro ao qual é suscetível todo estudante da ciência natural que muda para as coisas da mente sem a devida preparação: a saber, o erro de supor que a psicologia não é mais do que uma lógica aplicada. E o erro foi repetido num trabalho popular sobre psicologia humana e psicologia animal, que se seguiu ao volume técnico. Em 1874, ele tinha descartado, definitivamente, esta visão inicial de concepção da psicologia como uma ciência independente. Ele ainda sustentava, entretanto, que o caminho da psicologia como ciência independente passava pela anatomia e pela fisiologia do sistema nervoso.

Em breve esboço, tais foram as condições em que as duas psicologias adquiriram sua forma e substância. De um lado, vemos um homem que devotou suas horas de reflexão solitária à filosofia antiga e à filosofia medieval; por outro lado, vemos um homem que forjou no laboratório as suas contribuições para a mais recente das ciências experimentais.

TITCHENER, Edward Bradford. Brentano e Wundt: Psicologia Empírica e Experimental. Rev. abordagem gestalt. [online]. 2010, vol.16, n.1  ISSN 1809-6867.

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Uma "história filosófica" da Psicologia

Em 2017 Saulo Araujo publicou Toward a philosophical history of psychology: An alternative path for the future, artigo que parece ter ocasionado certo burburinho nos meios anglófonos, bem como uma resposta de Araujo a eles. 

O que parece saltar aos olhos, disso tudo, é o conjunto de malentendidos e de interpretações enviesadas que esse tipo de debate ocasiona. 

A primeira coisa que me espanta é a "história da Psicologia", especialmente americana (e a brasileira a imita bastante), ter desenvolvido uma espécie de agenda institucional de história como se funcionasse independentemente das demais discussões em história e filosofia da ciência.

Um breve exemplo: em física é possível ser físico, e também se pode fazer história da física. As duas ocupações são bastante independentes a ponto de um físico pouco incomodar-se com sua própria história, ou ainda, pouco incomodar-se com qualquer outro tipo de historiador (vindo da História, da Filosofia, da Sociologia...) que se ocupe com seus assuntos, inclusive de forma por assim dizer "não-física", exterior ao métier do físico. 

Aliás, é incrível, por exemplo, ver um conjunto imenso de questões teóricas ser relegado a assuntos tais como "física teórica", que não obstante faz parte da física tout-court. Assuntos eminentemente filosóficos, como a "teoria das cordas", não chegam a ser chamados de "filosofia". 

Em resumo: vê-se entre os físicos inclusive certo despeito (inclusive no mal sentido) para com o que a história ou outras áreas podem fazer ou contribuir para com a física. E inversamente, vê-se trabalhos muito ricos de história da física feitos por filósofos e outros "não-físicos".

Em Psicologia parece diferente: quase todo historiador da Psicologia é psicólogo, formado entre psicólogos e estudando história da Psicologia em departamentos de psicologia. Mesmo que em Psicologia exista abertura para ver outras áreas e adequá-las em assuntos psicológicos, parece que há uma espécie de "agenda interna" que sempre subsume qualquer assunto em história da Psicologia para dentro dos muros institucionais dos psicólogos. Alguém se torna "historiador da Psicologia" estudando, via de regra, entre psicólogos.

Disso, parece-me notável o quanto o trabalho de Araujo tem ao mesmo tempo aberto portas e fornecido fatores que parecem pouco compreendidos por muitos psicólogos. 

É o caso de sua "história filosófica" da Psicologia. Ele argumenta no texto que, desde os anos 1960, houve uma grande institucionalização em história da psicologia, acompanhada de historiografias inspiradas em outras historiografias críticas e de "social turn". Dentre os exemplares ele cita estudos como o de Thomas Kuhn, que temporalizaram e, por assim dizer, "sociologizaram" os estudos em ciência. 

Diante disso, Araujo propõe com sua "história filosófica" algo que deveria parecer absolutamente trivial, mas incrivelmente não parece: estudar a história de uma ciência não retira de questão estudar o modo essencialmente polêmico com o qual uma ciência se relaciona com seu presente e com o seu passado, tornando-a polêmica em sua própria existência, e transmutando o presente em "atualidade", como diriam Bachelard e outros. É estudar como ela constrói sua arquitetura com base em seus conceitos e como esses conceitos "secretam" (para usar uma palavra de Canguilhem) uma história própria, que precisa ser compreendida na ligação desses conceitos com outros conceitos (filosóficos e científicos) e com uma imensa rede de outros fatores, por assim dizer, "não conceituais". 

Em suma: uma "história filosófica" não descarta o fato de que conceitos são formulados em agendas extra-científicas, mas não reduz a formação dos conceitos a aspectos positivistas e "internalistas"; e por outro lado, assume que cada ciência possui um conjunto de historicidades próprias das quais, se elas encontram suas condições de possibilidade também em outros fatores extra-científicos (por exemplo, sociológicos), isso não significa que toda ciência se reduza a esses condicionantes exteriores. Em suma: análise conceitual ligada a uma "história filosófica", sem recair nos ditos "internalismos" e "externalismos". 

O próprio Canguilhem, a esse respeito, dizia, em L'Objet de l'histoire des sciences, que 
A história das ciências não é uma ciência e seu objeto não é um objeto científico. Fazer, no sentido mais operativo do termo, uma hsitória das ciências, é uma das funções, e não a mais fácil, da epistemologia filosófica.
Parece-me surpreendente o quanto esse tipo de consideração, tão antiga, é tão pouco lida. Mas é precisamente por esse caminho que Araujo anda, caminho que não parece bem entendido por muita gente.

E caminho que também é trilhado por historiadores da filosofia, ou mesmo por quem quer tomar a história da psicologia como assunto de história da filosofia e das ciências.

Ele diz, por exemplo, que uma "história filosófica da psicologia" envolve um aspecto "crítico" (pois não celebra qualquer projeto psicológico), "policêntrico" (pois envolve os mais diversos projetos) e "internacional" (não diz respeito ao eixo anglo-europeu). Além disso, tal história visa a "coerência e racionalidade dos projetos psicológicos em seus próprios contextos históricos" (p. 10). 

Em suma: salta aos olhos que uma história da psicologia já não devesse ser aberta a outros domínios, especialmente filosóficos (digo isso em sentido bastante geral). É claro que o psicólogo retém questões filosóficas em Psicologia. Mas ele não pareceu ter percebido ainda o contrário: o quanto a Psicologia pode ser analisada sob pontos de vista que nada devem à Psicologia.

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Helmholtz e o Alpinismo


Um alpinista que deseja escalar os Alpes: sem conhecer o caminho, ele sobe devagar e com grande esforço, sendo muitas vezes obrigado a retroceder porque vê seu progresso impedido. Ás vezes com ajuda do raciocínio; Às vezes por acaso, ele encontra indícios de uma trilha recém-aberta que o leva um pouco mais longe até que, finalmente, quando atinge seu objetivo, descobre para sua irritação uma esplêndida estrada, pela qual poderia haver subido se tivesse sido inteligente o bastante para encontrar o ponto de partida certo logo no início. Em minhas memórias, naturalmente não dou ao leitor o relato das minhas errâncias, mas sim o caminho batido, pelo qual ele pode chegar ao cume sem problemas. (Helholtz citado por Warren citado por Goodwin 2010, p.90).

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Wilhelm Dilthey: O Surgimento da Hermenêutica (1900)

link: Numen: Revista de estudos e pesquisa da religião v. 2, n. 1 (1999) > Dilthey

Aqui temos uma tradução para o português do famoso texto de Dilthey sobre a história da hermenêutica. Nele Dilthey apresenta o desenvolvimento da arte da interpretação desde a antiguidade, passando pelos estudos religiosos e literários e alcançando os inícios da modernidade. Ele descreve opapel de autores centrais durante este desenvolvimento, mas o acento é colocado em Schleiermacher como uma figura chave na direção da elaboração de uma hermenêutica geral. Embora escrito como descrição de um desenvolvimento histórico, o texto apresenta elementos importantes acerca das idéias de Dilthey a respeito da epistemologia nas ciências humanas. 

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Lev Vygotsky: O Manuscrito de 1929

Importante tradução de A. A. Puzirei, da qual reproduzo o informe:

O final dos anos 20 foi para Lev Semionovich Vigotski um tempo de elaboração intensiva teórica e prática das teses básicas de sua teoria histórico-cultural do psiquismo do homem. Deixou para trás o primeiro qüinqüênio, relativamente tranqüilo e apesar de tudo feliz, de sua vida em Moscou, depois da mudança em 1924 da cidade de Gomel – tempo de sua constituição como psicólogo, de incrível e impetuosa ascensão de sua estrela, quando em poucos anos este homem, ainda muito jovem, de um professor provinciano desconhecido transformou-se em uma das figuras mais notáveis e avançadas da jovem psicologia soviética. Pesquisador com autoridade científica impecável, rodeado de um grupo de jovens discípulos também talentosos, entusiasticamente devotados a ele, pleno de elevada consciência de sua missão no desenvolvimento da ciência, cheio de idéias, projetos e planos, a maior parte dos quais, infelizmente, por causa da sua morte prematura, não estava destinada a realizar-se. Como que pressentindo isso, L. S. Vigotski trabalhou muito e rápido todos estes anos. Da sua pena, um após outro, saíram grandes trabalhos, que constituem hoje o corpo da concepção histórico-cultural e que há muito entrou para os arquivos de ouro da literatura psicológica nacional e mundial. Quase cada um desses foi pouco a pouco preparado por esboços e anotações preliminares, os quais Vigotski fez, na maioria das vezes, "para si", não predestinando-os para publicação. Mas até esta "fala interna" peculiar de Vigotski, por causa da sua capacidade surpreendente de viver e fazer tudo na sua vida logo "às claras", "sem rascunhos", apresenta em si, via de regra, textos autônomos, ligados e às vezes inteiramente acabados. Exatamente assim é o manuscrito publicado em seguida, de 1929, do arquivo de família de Vigotski, o qual foi concedido bondosamente pela filha do cientista – G. L. Vigotskaia. Este trabalho não apenas permite espiar o laboratório criativo do famoso pensador, com clareza ver o processo de cristalização de algumas teses da teoria histórico–cultural, bem conhecidas pelos trabalhos clássicos de L. S. Vigotski do inicio dos anos 30, mas contém também uma série inteira de idéias originais e desenvolvimentos de pensamentos, os quais não tiveram elaboração em trabalhos posteriores. Em relação a isso as anotações publicadas de L. S. Vigotski jogam nova luz em algumas teses fundamentais de sua concepção, apresentando-as de ângulo tal, que as torna extremamente atuais também para a psicologia moderna.
A proximidade de vários temas, formulações e exemplos e, até em determinado grau – também da lógica geral de construção do texto publicado – com o trabalho "História do desenvolvimento das funções psíquicas superiores" (especialmente com o seu segundo capítulo) permite ver o manuscrito dado na qualidade de delineamento preliminar, esboço do trabalho principal de Vigotski – na verdade, mais provavelmente, não daquela sua versão canônica, a qual é conhecida de todos pela sua publicação em 1960 e reimpressão recente no III volume da coletânea das suas obras, mas daquela primeira e curta versão do trabalho, até agora ainda não publicada, que se mantém no arquivo da família do cientista.
Nesta publicação são preservadas as especificidades da sintaxe e todos os destaques do original. A ortografia está de acordo com as normas atuais. As inúmeras abreviaturas foram reconstruídas com a decifração do manuscrito. Todas as adições no texto foram colocadas entre parênteses retos e também todas as notas de rodapé e comentários, se isto não está ressalvado, especialmente as que pertencem ao autor do artigo introdutório. 

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Georges Canguilhem: O Cérebro e o Pensamento (1980)

Tradução da conferência de Canguilhem por Sandra Yedid e Monah Winograd.

Conferência na Sorbonne para o M.U.R.S. (dezembro de 1980); primeira publicação em Prospective et Santé, n. 14, verão de 1980, pp. 81-98.
É certo que cada um de nós se envaidece por ser capaz de pensar, e muitos até gostariam de saber como é possível que pensem como de fato pensam. Ao que tudo indica, entretanto, essa questão já deixou manifestamente de ser puramente teórica, pois parece-nos que um número cada vez maior de poderes estão se interessando em nossa faculdade de pensar. E se, portanto, procuramos saber como é que nós pensamos do modo como o fazemos, é para nos defender contra a incitação sorrateira ou declarada a pensar como querem que pensemos...

Créditos: Natureza Humana 8 (1):183-210 (2006). Link PhilPapers e Scielo.

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Immanuel Kant: Observações sobre o órgão da Alma (1796)

O breve texto de Kant figura sob o espírito das Críticas e próximo da publicação do Conflito das Faculdades e de sua Antropologia Pragmática.

O debate da redução da mente ao cérebro ou sobre a má colocação desse problema terá importantes repercussões no século XIX e XX.

Zelkjo Loparic traduz o texto e também faz um comentário, "de Kant a Freud".

Traduzido das observações de Kant que se encontram nas páginas 81-6 do livro Über das Organ der Seele (Sobre o órgão da alma), de Samuel Th. Sömmering, publicado em Königsberg, em 1796, por Friedrich Nicolovius.

Link da tradução no PhilPapers e no Scielo.

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William James - O Eu Escondido (1890)

Tradução de Marcos de Aguiar Villas-Bôas. Reproduzimos o informe do tradutor:

Toda tradução é uma interpretação e requer ajustes para que se torne compreensível pelo auditório a que se destina. O texto, ao que parece traduzido para o português pela primeira vez, data de 1890 (ver texto original, em: <http://www.unz.org/Pub/Scribners-1890mar-00361?View=PDF>) e o seu autor é um dos maiores gênios dos últimos séculos, o que ressalta a sua relevância.  
O tradutor buscou respeitar muito mais a substância do que a forma, tendo procurado transmitir de modo claro e simples o que o autor parecia querer significar em forma mais rebuscada e com recursos da época, como o uso de parágrafos muito extensos, os quais foram subdivididos a critério do tradutor.
William James, juntamente com Charles Peirce e outros, foi o criador da poderosa corrente filosófica chamada de Pragmatismo (Americano). Diz-se que, pelo fato de Peirce, aquele que deu nome e primeiras bases ao Pragmatismo, ter sido alguém pouco sociável, coube a James a divulgação dessa corrente pelo mundo.
Peirce, James, Oliver Wendell Holmes Jr. e outros foram membros do Clube Metafísico (The Metaphysical Club), um grupo de estudiosos constituído e destitutído por eles em Harvard, no ano de 1872, cujas discussões ajudaram a desenvolver o Pragmatismo. 
James foi o primeiro professor de um curso de Psicologia nos Estados Unidos e é amplamente conhecido como um pioneiro dessa ciência naquele país e, até mesmo, no mundo.
O texto é histórico e genial. James analisa inicialmente a relação entre ciência e misticismo para depois mergulhar num estudo realizado à época por outro pioneiro da Psicologia: o francês Pierre Janet. Pela época em que foi escrito, a sua profundidade em termos de visão acerca do que é ciência, dos seus furos, pontos cegos e de como fazê-la avançar é digna de grande admiração, sendo as ideias atuais ainda hoje, 126 anos depois.

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Kant - Ensaio sobre as doenças da cabeça (1764)

Kant é um autor muito pouco conhecido em Psicologia, embora sua obra dialogue diretamente com a possibilidade e os limites dessa disciplina, seja em âmbito científico ou não.

No Brasil, costuma-se apresentar Kant em Psicologia sob dois horizontes: seus "vetos" à Psicologia (que seriam supostamente "vencidos" por autores como Johannes Müller, Helmholtz e Fechner) e seu "inatismo" em Psicologia do Desenvolvimento, o que acaba se transformando numa confusão de leitura entre condições fisiológicas inatas (portanto, empíricas) e condições a priori do conhecimento, este sim o argumento de Kant.

Mas, como se pode imaginar, há um largo lastro de pensamento que passa ao largo dessas questões. Inclusive, as relações entre a Crítica e as psicologias, da época ou posteriores, são pouco visitadas.

Para os psicólogos, esta tradução é uma espécie de "início de assunto". As questões sobre o senso comum e a loucura atravessam a obra de Kant e, em relação com as Críticas, podem lançar questões ainda não percorridas sobre a Psicologia.

Segue, então, link para a tradução de Pedro Miguel Panarra na Revista Filosófica de Coimbra e no PhilPapers.

Apresentamos a tradução de o  Ensaio sobre as doenças da cabeça  realizada a partir da  1ª  edição  de   Kants  Werke ,  por  Wilhelm  W eischeidel,  Darmstadt,  Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1983. Band II,  Vorkritische Schriften bis 1768 . Como sucede na tradução dos escritos de Kant que tenham a pretensão de rigor, procedeu-se a uma comparação com o  texto  da  edição  da  Academia  das  Ciências  da  Prússia,   Kants  Gesammelte  Schriften , Berlin, 1912, volume II. Tradução  Edições  70.  O  tradutor  agradece  à  editora  a  autorização  para  esta  publicação.

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Ludwig Binswanger - O Sonho e a Existência (1930)

O célebre texto de Binswanger, que inicia sua Daseinsanalyse, foi publicado pela Natureza Humana em 2002.

Por aqui, ficou conhecido a partir da leitura de Foucault. Na revista onde foi publicado, o artigo de Binswanger foi interpretado à luz de Heidegger.

Mas Binswanger tem também uma trajetória própria, embora com poucos textos ainda traduzidos por aqui. A tradução de Martha Gambini começou a suprir essa lacuna.

Recentemente, Marco Antonio Casanova tem organizado traduções dos Ensaios e Conferências Escolhidas de Binswanger. Sob tal trabalho ele também traduziu Sonho e Existência.

O original em alemão está disponível neste link. Aqui, o link para o PhilPapers, e aqui a página Scielo.

Créditos originais: Traum und Existenz. H. Girsberger & Cie., 1930

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Ivan Pavlov - A ciência natural e o cérebro (1928)

O Brasil tem um velho problema referente às traduções. Trata-se de apresentar ao leitor traduções secundárias, derivadas de outras traduções.

Esse é mais um exemplo disso. O texto de Pavlov, de 1928, é traduzido de outra versão, a abaixo:

Pavlov, I. P. (1928). Natural science and the brain. In I. P. Pavlov & W. H. Gantt (Trans.), Lectures on conditioned reflexes: Twenty-five years of objective study of the higher nervous activity (behaviour) of animals (pp. 120-130). New York, NY, US: Liverwright Publishing Corporation.
http://dx.doi.org/10.1037/11081-010
 
Não sei se é preciso prevenir o leitor de que uma tradução de uma tradução deve ser lida com mais cuidado. De todo modo, somos carentes em traduções de Pavlov, especialmente as diretas do russo. Nesse sentido, o texto abaixo é importante para a recepção brasileira. 

Segue o link no PhilPapers e, igualmente, o link da Revista Brasileira de Ciências da Saúde.
Tenho a honra de submeter à vossa valiosa atenção uma tentativa de investigar a atividade mais complexa de um dos animais superiores: o cão. A seguir, em minha exposição, vou basear-me nos resultados da pesquisa de dez anos em meus laboratórios, onde conto com vários jovens cientistas que estão tentando a sorte neste novo campo de investigação. Esta década de pesquisa, inicialmente obscurecida por dolorosas dúvidas, mas a seguir, com freqüência cada vez maior, encorajada pelo sentimento firme de que nossos esforços não eram em vão, oferece, a meu ver, uma resposta inques- tionável e positiva à questão colocada acima.

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John Watson: A Psicologia como um behaviorista a vê (1913)

Segue tradução em português do clássico de Watson, quase 100 anos após o manifesto original do behaviorismo.

Mesmo com essa tradução, Watson permanece desconhecido no Brasil. 

Os links são do PhilPapers e o link original, no Scielo.

A psicologia como o behaviorista a vê é um ramo experimental puramente objetivo das ciências naturais. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não constitui parte essencial de seus métodos, nem o valor científico de seus dados depende da facilidade com que eles podem ser interpretados em termos de consciência. O behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre homens e animais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e complexidade, constitui apenas uma parte do esquema total de investigação do behaviorista.
Artigo originalmente publicado em Psychological Review (1913), 20(2), 158-177. Artigo em domínio público. Tradução de Flávio Karpinscki Gerab (Universidade de São Paulo). Luiz Eduardo de Vasconcelos Moreira (Universidade de São Paulo), Mariana Zago Castelli (Universidade de São Paulo), Pedro Eduardo Silva Ambra (Universidade de São Paulo). Tauane Paula Gelim (Universidade de São Paulo) e Marcus Bentes de Carvalho Neto (Universidade Federal do Pará). 

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Linha do Tempo

https://psuchologia.blogspot.com.br/2018/05/linha-do-tempo.html


Abaixo, todos os textos do blog organizados em ordem temporal. A ordem de atualizações não acompanha imediatamente os posts.

Christian Wolff - Psicologia Empírica - Prefácio e Prolegômenos (1732)

Kant - Ensaio sobre as doenças da cabeça (1764)

Immanuel Kant: Observações sobre o órgão da Alma (1796)

William James: O que é uma emoção? (1884)

William James - O Eu Escondido (1890)

William James: O Escopo da Psicologia (Principles of Psychology, chap. 1) (1890)

William James: As emoções (trecho do cap. XXV de Principles of Psychology, 1890)

Wilhelm Wundt: Esboços de Psicologia - Introdução (1896)

Wilhelm Dilthey: O Surgimento da Hermenêutica (1900)

John Watson: A Psicologia como um behaviorista a vê (1913)

Titchener: Brentano e Wundt: Psicologia Empírica e Experimental (1921)

Ivan Pavlov - A ciência natural e o cérebro (1928)

Lev Vygotsky: O Manuscrito de 1929

Ludwig Binswanger - O Sonho e a Existência (1930)

Eugene Minkowski: O tempo vivido (Prólogo, 1933)

Michel Foucault: A Pesquisa Científica e a Psicologia (1957)

Georges Canguilhem: O Cérebro e o Pensamento (1980)

B.F. Skinner - Revista Veja, 15 de junho de 1983

Skinner: A Psicologia pode ser uma ciência da mente? (1990)
 
Bento Prado Jr.: De volta ao século XIX (2004)

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Wilhelm Wundt: Esboços de Psicologia - Introdução (1896)

Em 1896, Wundt publica Grundriss der Psychologie. As circunstâncias dessa publicação são até hoje controversas, pois algum tempo antes Oswald Külpe havia publicado um livro de mesmo título que havia desapontado Wundt, até então considerado seu "mestre".

Para Wundt, Külpe era um verdadeiro "braço direito". Mas as novidades da física, trazidas por figuras como Ernst Mach, tiveram grande impacto em Külpe e diversos outros autores, como Ebbinghaus e Titchener.

Dentre os fatores que tornaram esse texto possível, figuram então uma resposta a Külpe e a exposição do projeto de Wundt pelo próprio Wundt.

A tradução brasileira, nesse sentido, preenche uma lacuna existente por aqui há várias décadas: a ausência de qualquer coisa sobre Wundt.

Essa tradução é da versão em inglês. Traz, então, os mesmos problemas que aquela. Por exemplo, o tradutor perdeu de vista que "ciências da mente" - mind sciences - provém de "ciências do espírito" (geisteswissenschaften), o que liga Wundt a todo o debate alemão sobre a divisão metodológica das ciências e a "querela dos métodos" (Metodenstreit) da época.

Mas, salvo os problemas, é um texto pioneiro para o contexto brasileiro, carente de textos originais e de conhecer história da Psicologia.

Links para o DOI, gratuito no Scielo.

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Michel Foucault: A Pesquisa Científica e a Psicologia (1957)

Curiosamente, esse texto de Michel Foucault, elaborado no início dos anos 1950, demorou para ser traduzido em português.

Ele consta num dos novos volumes da versão brasileira dos Ditos e Escritos, que reúne nada menos do que 10 volumes (a versão francesa de 2001 tem 2).

Previamente, o público tinha disponível a tradução abaixo, de Marcio Miotto, cuja fonte original é o excelente Espaço Michel Foucault.

Link no Philpapers.

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Lorem Ipsum

"All testing, all confirmation and disconfirmation of a hypothesis takes place already within a system. And this system is not a more or less arbitrary and doubtful point of departure for all our arguments; no it belongs to the essence of what we call an argument. The system is not so much the point of departure, as the element in which our arguments have their life."
- Wittgenstein

Lorem Ipsum

"Le poète ne retient pas ce qu’il découvre ; l’ayant transcrit, le perd bientôt. En cela réside sa nouveauté, son infini et son péril"

René Char, La Bibliothèque est en feu (1956)


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